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Daiene Cliquet - Costuras de Afeto: a história do fuxico e o que ela ainda nos ensina

  • Foto do escritor: Ricardo Veras
    Ricardo Veras
  • 3 de ago.
  • 2 min de leitura
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Não se sabe ao certo quando o primeiro fuxico foi feito, mas o que se sabe é que ele nasceu das mãos de mulheres que aprendiam cedo que o tecido valia ouro — e por isso, nada era desperdiçado.

O fuxico é isso: um círculo de tecido franzido com linha e agulha, que vira flor, vira broche, vira almofada, vira colcha, vira história. Pequenino no tamanho, mas gigante em significado. Ele carrega, ponto a ponto, as memórias de quem aprendeu a bordar com a avó, de quem fazia nos finais de tarde para espantar o silêncio, de quem vendia para sustentar os filhos, ou simplesmente para deixar o mundo mais bonito.

Originário da cultura popular nordestina, o fuxico é símbolo de criatividade, resistência e delicadeza. Era feito a partir de sobras de roupas e retalhos — o que não servia mais para o corpo, ganhava nova vida pelas mãos. E, veja só, essa lógica da ressignificação está mais atual do que nunca.

O nome “fuxico”, dizem, veio do hábito das mulheres se reunirem para costurar e conversar. Entre uma peça e outra, trocavam confidências, contavam casos, davam risada e costuravam também laços. Fuxicavam. E era ali que se criava o que hoje chamamos de redes de apoio, sem dar esse nome bonito. Era só afeto espontâneo, mesmo.

Hoje, vejo o fuxico como mais do que uma técnica de artesanato — é um ato político e poético. É fazer com as mãos aquilo que o mundo precisa com urgência: cuidar, transformar, dar tempo ao tempo. E quando reaproveito tecido de guarda-chuva para fazer meus fuxicos, como tenho feito nas oficinas, sinto que estou costurando também uma nova consciência: a de que tudo pode virar arte, se houver afeto.

O fuxico pode parecer pequeno. Mas ele é como as histórias de antigamente: simples, circulares, feitas para durar. E, se você prestar atenção, talvez descubra que a sua própria história também está cheia de pedacinhos de pano, pontos tortos e costuras firmes — tudo o que a gente precisa para seguir.

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Daiene Cliquet é arte-educadora, produtora cultural, bonequeira, artesã e pesquisadora de artes integradas à educação pública.

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