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O Medo Que Te Move — ou Te Faz Serviçal do Algoritmo?

  • Foto do escritor: Ricardo Veras
    Ricardo Veras
  • 17 de jul.
  • 2 min de leitura
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Hoje em dia ninguém mais teme a Justiça.

Temem os comentários do Instagram.

A maior punição moderna não é a cadeia, é o cancelamento.

Não dói ser preso — dói ser ignorado na timeline.


Estamos em uma era em que o sujeito não se preocupa com o que é certo, mas com o que é bem enquadrado em 1080p.

O medo mudou de endereço.

Saiu da alma e foi morar no feed.


Tem gestor que não governa porque tem medo da própria sombra.

Tem promotor que quer ser âncora de jornal.

Tem policial que, antes de prender, pergunta: “Já ligaram a câmera? A GoPro tá no peito?”.

E, claro, tem cidadão que acha que justiça é aquilo que o influenciador jurídico da semana explicou num vídeo de 40 segundos com dancinha ao fundo.


É um teatro.

Mas ninguém quer ser o palhaço — querem ser o protagonista.

Mesmo que pra isso se arrebente a Constituição e se jogue o devido processo legal na sarjeta.


Vivemos o reality show da moral seletiva.

E pra ganhar esse BBB jurídico-midiático, o que importa não é ter razão.

É ter uma boa edição de vídeo, trilha sonora dramática e, se possível, uma hashtag mobilizadora.


A farda virou figurino.

A toga, acessório.

E a lei?

Ah, a lei… essa coitada virou roteirista não remunerada das vaidades alheias.


Estamos escravos de um novo senhor: o algoritmo.

Ele decide quem merece ser ouvido, quem será cancelado e quem será promovido a herói — mesmo que a causa seja pífia e o caráter duvidoso.


E a verdade?

Ela perdeu a carteirinha de acesso.

Se não render engajamento, que espere no canto.


Não é mais sobre fazer o certo.

É sobre parecer certo.

Não é mais sobre agir com coragem.

É sobre não destoar da manada.


Mas a pergunta que fica é simples, direta, incômoda — como toda boa pergunta deve ser:


Qual medo move você?

O medo de se posicionar?

O medo de perder seguidores?

O medo de não receber aquele selo azul de aprovação digital?


Cuidado.

O silêncio da covardia também tem muitos likes.

A omissão vestida de neutralidade é o traje favorito dos que querem agradar a todos — e não têm coragem de ser nada.


Estamos avançando em tudo — menos no essencial.

Tem inteligência artificial em cada canto, mas falta caráter natural.

Tem discurso em nome da democracia, mas o que se quer, muitas vezes, é só palco.


No fim, o maior medo moderno é o de ser invisível no espetáculo dos egos.


Mas se quiser um conselho de um advogado e jornalista que ainda acredita em alguma lucidez institucional, lá vai:


Tenha medo de ser incoerente consigo mesmo.

O resto é só curtida com prazo de validade.



Por:

Sandro Chagas

Jornalista (DRT/RS 15.843)

Advogado (OAB/RS 105.040)

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