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Quando foi que promotor virou prefeito?

  • Foto do escritor: Ricardo Veras
    Ricardo Veras
  • 19 de jul.
  • 2 min de leitura
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Em nome do “interesse público”, promotores agora opinam sobre licitação, cronograma de obra, cardápio de merenda e, se deixar, até sobre qual música pode tocar na festa junina da escola. O que era controle virou co-gestão — sem voto, sem cobrança e, claro, sem responsabilidade administrativa.


Vamos começar com justiça: nem todo promotor age como se tivesse sido eleito com mais votos que o prefeito. Há muitos membros do Ministério Público que exercem sua função com equilíbrio, respeito às instituições e consciência de seus limites constitucionais. O problema é que os casos de excesso, embora não sejam a regra, têm virado rotina — e quem está na linha de frente da administração municipal sente isso na pele (e no protocolo).


Hoje, há prefeitos que fazem menos gestão e mais adivinhação: “Será que o MP vai deixar?” virou a pergunta-chave da administração pública. Em alguns municípios, o promotor local virou uma espécie de “CEO moral da cidade”, capaz de travar obras, impor prazos, exigir modelos de gestão e emitir pareceres que mais parecem decretos.


🎭 O teatro do zelo


Sim, o MP tem papel essencial na fiscalização e na defesa do interesse coletivo. Mas há uma linha entre fiscalizar e coadministrar — e essa linha está cada vez mais borrada. O que era para ser o controle posterior virou veto antecipado. E a Prefeitura virou uma repartição do MP, só que com menos poder de decisão.


🧊 A gestão congelada


A lógica do medo tomou conta: qualquer decisão pode ser interpretada como improbidade. Resultado? Prefeitos acuados, secretários paralisados, políticas públicas engavetadas. Hoje, há municípios que não conseguem pintar uma faixa de pedestre sem consultar o promotor antes — não por falta de lei, mas por excesso de zelo convertido em pressão.


🔄 O paradoxo do controle


Controlar o gestor é necessário. Substituí-lo, nunca. Quando quem não foi eleito começa a ditar os rumos da cidade, quem perde é o povo — que vota, espera, cobra… e descobre que a decisão final veio por ofício, não por urna.


🗳️ Fiscalizar é uma coisa. Administrar, é outra.


Promotor não foi eleito. Prefeito, foi. E democracia exige responsabilidade com limites. Quando um poder ocupa o espaço do outro, o que se perde não é apenas eficiência — é a própria legitimidade institucional.


Portanto, não se trata de deslegitimar o Ministério Público, mas de lembrá-lo de que a sua força está na legalidade, não na gerência informal. A boa administração nasce da harmonia entre os poderes, não da tutela disfarçada de zelo.


Por Sandro Chagas – Jornalista (DRT/RS 15.843) e Advogado (OAB/RS 105.040)

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